Entendendo o Diabetes: O que é, seus riscos e como se cuidar?

Quais cuidados devemos ter com a diabetes na terceira idade


“A educação não é somente parte do tratamento do diabetes, é o próprio tratamento.” | Elliot P. Joslin, 1930.


O diabetes é uma condição crônica em que o corpo não consegue controlar bem os níveis de açúcar (glicose) no sangue. Isso acontece quando o organismo não produz insulina suficiente ou não consegue usá-la corretamente — a insulina é o hormônio que ajuda a levar o açúcar do sangue para as células, onde ele é usado como energia.

Existem dois tipos mais comuns:

  • Diabetes tipo 1: normalmente aparece na infância ou adolescência e exige uso diário de insulina. É uma doença autoimune, caracterizada pela destruição das células-β do pâncreas produtoras de insulina. O sistema imunológico – “células de defesa do corpo” – de forma errada
    acaba danificando o pâncreas, que para de produzir insulina, hormônio que tem a função de levar glicose do sangue para dentro das células e assim gerar energia. Sem insulina, a maior parte da glicose não consegue entrar nas células e acaba se depositando nos vasos sanguíneos, lesionando esses vasos. O grau de destruição e a velocidade de destruição das células-β do pâncreas é variável, e nos adultos tende a ocorrer de forma mais lenta. O diabetes tipo 1 pode acometer pessoas de diferentes faixas etárias, podendo inclusive surgir em idosos. Apesar de existirem algumas teorias sobre as causas do diabetes tipo 1, isso ainda não está totalmente esclarecido e é multifatorial, mas é importante saber que você não tem diabetes tipo 1 porque comeu muito açúcar, como muitas se pode pensar.

  • Diabetes tipo 2: mais comum em adultos e idosos, está ligado ao estilo de vida e pode ser controlado com alimentação, exercícios e, às vezes, medicamentos. É caracterizado pela resistência à insulina. A insulina é produzida, mas o corpo não consegue utilizar suas funções adequadamente. De forma simplificada, falamos que a doença ocorre pelo aumento da resistência à ação da insulina e secreção deficiente de insulina pelo pâncreas, mas outros componentes que estão associados à resistência à ação da insulina também são importantes, como o aumento da produção de glicose pelo fígado, lipólise acelerada (quebra da gordura), reabsorção de glicose pelo rim aumentada e disfunção de neurotransmissores. Devido ao aumento dos casos de obesidade, a incidência do diabetes tipo 2 aumentou, inclusive em
    crianças e adolescentes. Não falamos de cura para o diabetes tipo 2, mas sim em controle e remissão da doença, com perda de peso, alimentação saudável e exercício físico.

Existe apenas diabetes tipo 1 e tipo 2?

Não! Hoje em dia sabemos que existem vários tipos de diabetes. O seu tipo vai ser definido mediante a exames e avaliação médica. A maioria das pessoas com diabetes tem o tipo 2, em torno de 5-10% tem o diabetes tipo 1.


Quem tem diabetes tipo 1 tem risco mais elevado de ter outras doenças autoimunes?

Sim. Pessoas com diabetes tipo 1 tem o risco mais elevado de apresentar outras doenças autoimunes como, por exemplo, o hipotireoidismo ou hipertireoidismo (alteração da glândula tireoide), vitiligo, doença celíaca, anemia perniciosa (que leva a deficiência da vitamina B12), hepatite autoimune e miastenia gravis. Todas as pessoas com diabetes tipo 1 devem realizar monitorização da função tireoidiana.

Caso apresente sintomas gastrointestinais (diarreia, constipação e dor abdominal), sinais clínicos ou laboratoriais (anemia, deficiência de vitaminas e osteoporose) sugestivos de doença celíaca, deve-se investigar a doença.

🩺 Por isso, é importante:

  • Fazer exames periódicos para identificar outras condições autoimunes precocemente;
  • Estar atento a novos sintomas como alterações digestivas, cansaço extremo, perda de peso, alterações na pele ou queda de cabelo;
  • Ter acompanhamento médico regular com endocrinologista e, se necessário, outros especialistas.

 


De ondem vem a glicose?

A glicose (açúcar no sangue) vem da nossa alimentação ou da quebra do glicogênio estocado no fígado (o glicogênio é formado por várias moléculas de glicose). Mesmo que você não coma, a sua glicemia nunca vai ser zero, isso não é compatível com a vida porque precisamos da glicose para gerar energia. Então no jejum, para manter a concentração de glicose normal, o nosso corpo inicialmente realiza a “quebra do glicogênio” para liberar a glicose para o sangue (glicogenólise).

Caso o jejum seja prolongado, ocorre a quebra da gordura e da proteína (músculos) e a gliconeogênese (formação de glicose a partir de outros substratos como a gordura e a proteína). O sistema para manter a concentração de glicose normal no nosso corpo é complexo. No diabetes tipo 1, a glicose continua sendo liberada para o sangue, porém pela falta de insulina, ela não entra nas células e não gera energia. Por isso, a glicemia pode estar elevada, mas a pessoa sente cansaço, falta de disposição e mal-estar.


⚠️ Quais os riscos do diabetes?

Se não for controlado, o diabetes pode trazer complicações sérias, como:

  • Problemas na visão (até cegueira);
  • Dores e formigamentos nos pés e mãos;
  • Insuficiência renal;
  • Hipertensão e doenças do coração;
  • Feridas que demoram a cicatrizar;
  • Risco de AVC (derrame).

Por isso, diagnosticar cedo e cuidar bem da saúde é fundamental.


Tratamento Contínuo e Parâmetros de Acompanhamento

A diabetes é uma condição crônica que exige atenção diária e que não tem cura, mas pode ser bem controlada com tratamento contínuo e acompanhamento regular, é possível ter uma vida ativa, saudável e com qualidade. O segredo está no cuidado contínuo, na informação e no acesso aos serviços de saúde que felizmente existem no Brasil de forma gratuita ou com baixo custo. O SUS (Sistema Único de Saúde) e os profissionais de saúde seguem alguns parâmetros de controle para garantir o bom cuidado.

🔍 Principais exames e parâmetros recomendados:

🩸 1. Glicemia de jejum

  • O que é: mede a quantidade de açúcar no sangue após 8 horas de jejum.
  • Ideal para quem tem diabetes: até 130 mg/dL (pode variar conforme o caso).
  • Frequência: a cada 3 meses (ou conforme indicação médica).

🧪 2. Hemoglobina glicada (HbA1c)

  • O que é: mostra a média da glicose nos últimos 2 a 3 meses.
  • Meta recomendada: menor que 7% na maioria dos pacientes.
  • Frequência: a cada 6 meses (ou a cada 3 meses se o controle estiver irregular).

💉 3. Glicemia capilar (ponta do dedo)

  • O que é: feito com glicosímetro, mostra o nível de glicose naquele momento.
  • Frequência: pode ser diária ou mais de uma vez por dia (tipo 1) — depende do tratamento.

🧠 4. Avaliação clínica e educação em saúde

  • Verificar peso, pressão arterial, IMC.
  • Reforçar orientações sobre alimentação, medicação, atividade física e saúde emocional.
  • Frequência: em todas as consultas.

👁️ 5. Fundo de olho (retinografia)

  • Importância: detecta sinais de retinopatia diabética, que pode causar cegueira.
  • Frequência: pelo menos 1 vez por ano.

🦶 6. Avaliação dos pés (exame de sensibilidade)

  • Objetivo: prevenir feridas, infecções ou amputações.
  • Frequência: anual ou semestral, conforme risco.

🧪 7. Exames complementares importantes:

✅ Fundo de olho: deve ser realizado uma vez por ano;
✅ Microalbuminúria em amostra isolada de urina (avalia a quantidade de proteína na urina e é um marcador de lesão renal): deve ser realizada pelo menos uma vez ao ano;
✅ Hemoglobina glicada;
✅ Função renal (creatinina);
✅ Colesterol total e frações;
✅ Função tireoidiana;
✅ Função renal (creatinina e microalbuminúria)
✅ Colesterol e triglicerídeos
✅ ECG (eletrocardiograma)
✅ TSH (avaliação da tireoide)

 

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece uma série de recursos importantes para pessoas com diabetes tipo 1 e tipo 2:

1. Medicamentos gratuitos

Por meio do programa “Aqui Tem Farmácia Popular” e das unidades básicas de saúde, é possível retirar:

  • Insulina (regular e NPH);
  • Metformina;
  • Glicazida, entre outros antidiabéticos orais.

Basta apresentar prescrição médica, documento com foto e CPF.

2. Exames regulares pelo SUS

Você pode realizar, gratuitamente:

  • Teste de glicemia capilar;
  • Hemoglobina glicada;
  • Exames de urina e colesterol;
  • Avaliação de retina (fundo de olho);
  • Eletrocardiograma e exames renais, conforme indicação médica.

Procure a unidade de saúde mais próxima e mantenha um acompanhamento regular com um clínico geral ou endocrinologista.

3. Educação em saúde e apoio multiprofissional

Muitas UBSs oferecem grupos de apoio com enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e educadores físicos, com orientações sobre alimentação, medicação, cuidados com os pés e prática de exercícios.


🧪 Hemoglobina Glicada: o que é e por que é tão importante?

A hemoglobina glicada (HbA1c) é um exame de sangue que mostra a média da glicose nos últimos 2 a 3 meses. É fundamental para acompanhar se o tratamento está funcionando.

👉 Valores de referência:

  • Até 5,6%: normal
  • Entre 5,7% e 6,4%: pré-diabetes
  • 6,5% ou mais: diabetes

Importante: Para quem tem diabetes, o ideal é manter a hemoglobina glicada abaixo de 7%, ou conforme a orientação médica. Esse exame não exige jejum e pode ser feito pelo SUS mediante solicitação do médico.

🩺 Acompanhamento com profissionais de saúde:

  • Clínico geral / endocrinologista: acompanhamento do controle da glicemia e prescrição de medicamentos;
  • Nutricionista: orientação alimentar;
  • Enfermeiro: aplicação de insulina, cuidados com os pés;
  • Oftalmologista, cardiologista e nefrologista: quando necessário.

 

Tabela de leitura dos parâmetros:


🌟 Dicas para prevenir ou controlar o diabetes

Mesmo quem já tem a doença pode viver bem e com qualidade de vida! Veja como:

🥗 1. Alimente-se com equilíbrio

  • Evite doces, refrigerantes e frituras;
  • Prefira frutas com moderação, legumes, verduras, grãos integrais e proteínas leves;
  • Coma em horários regulares e evite “beliscar” o tempo todo.

🚶 2. Pratique atividades físicas

  • Caminhadas leves, dança, hidroginástica ou alongamentos ajudam a controlar o açúcar no sangue;
  • O ideal é se mover pelo menos 30 minutos por dia, com orientação médica.

⚖️ 3. Controle o peso

  • Manter um peso saudável reduz os riscos do diabetes tipo 2.

💊 5. Siga corretamente o tratamento

  • Se você já tem diagnóstico, não abandone os medicamentos;
  • Faça os exames recomendados e mantenha acompanhamento médico regular.

🧠 6. Cuide também da mente

  • Estresse e ansiedade podem alterar os níveis de glicose;
  • Busque momentos de relaxamento, lazer e boas conversas.

💧 4. Beba água

  • Hidratar-se ajuda o corpo a funcionar melhor e mantém o equilíbrio do organismo.

🎥 Conheça mais sobre o diabetes com a Nutricionista Carla!

Para esclarecer dúvidas e trazer orientações práticas sobre alimentação, prevenção e bem-estar, convidamos a nutricionista Carla, da equipe Laços Saúde, para um bate-papo leve e informativo. Neste vídeo, ela explica de forma simples o que é o diabetes, quais cuidados devemos ter e como a nutrição pode ser uma grande aliada no controle da doença — especialmente na terceira idade. Aperte o play, aproveite as dicas e cuide bem da sua saúde!